Vim aqui hoje só pra me despedir, me despir, me dispor, me indispor de você e consecutivamente de todas as pessoas, e coisas, e as coisas das pessoas que me ligam a você ou que me lembrem de você.
Me sinto triste, digo, ainda mais que triste, estou cansada, exausta de te buscar, te conquistar e me atormentar; eu tento a acada dia, a cada gesto, a cada pessoa, e coisa, e tudo a ganhar um pouco de você , só que quanto mais eu me aprofundo mais me afundo, e chego num lugar onde acaba tudo em que acredito em mim e fica somente o igual, onde eu já não sou mais especial (nem cordial), todos são iguais a mim e buscam a si. E eu que ainda acreditava ser única, a única, sou só mas uma que não se enxerga nem na primeira folha de sua lista.
Eu nem sei desenhar... só as casinhas da infância, que eu te fazia nas cartinhas e que você dizia serem graciinhas.
Muitos anos depois dessa decisão ela o reencontra, perto do metrô, ela veste uma calça preta social, uma blusa branca de manga até os cotovelos de lycra e com um belo decote que nos seus seios mais ressaltados ficam, sandália alta e bolsa preta, cabelos levemente presos e como sempre uma maquiagem quase ao natural. Ele a reconheceu logo e percebeu que não havia mudado em nada.
Ele diz: - Oi!
Ela diz: - Oi!
Ele diz: - E aí? Como vão as coisas. Tanto tempo né!
sentam-se num banquinho, ela põe as mãos (como sempre - ele percebe) nas pernas segurando as bolsas e responde com um grande sorriso montado: - Vou bem, casei tive uma filha, se chama Mariana está com dois anos, tô morando em Laranjeiras agora.
Ela disse isso com um ódio tão grande, umr raiva por trás do riso, dos dentes, da língua, da amígdala, do esôfago e uma vontade de regurgitar dentro do estômago tão grande e dizer exatamente o oposto, a verdade no caso, mas como regurgitar pode ser bem nojento e não deve se fazer desse modo ela continuou a sorrir e... pororoca.
Ela disse: - E você? Quais são as novidades?
Ela na verdade nem precisava ouvir a resposta, pela roupa, o jeito despojado continuava o mesmo de sempre, só que agora com um maior ar de maturidade, estava lindo o cabelo e ela mordia os lábios de desejos só para acariciá-los e cheirá-los nesse momento era só o que ela queria fazer... mas ele respondeu:
-Tudo bem, continuo com os projetos mas não tive filhos, nem casei mas tô namorando...
Como se ela não soubesse, esses anos todos continuava a acompanhar sua vida de todos os modos possíveis e com tantas coisas em comum isso não era difícil!
Riram um pouco, levantaram-se, dois beijinhos e ele disse:
- Vamos marcar qualquer coisa para um dia desses!
Ela sabia que não haveria um dia desses marcado, a não ser um outro por acaso que os juntaria. Ele foi e ela não teve coragem de virar-se mas não aguentou e ainda pode vê-lo virar a esquina e se sentiu emocionada, e desesperada, observou e percebeu que estava em frente a um de seus melhores lugares, para onde vai com pouco ou muito dinheiro, sozinha ou acompanhada, triste ou feliz, comprou o ingresso foi ao cachorro-quente que por sorte pelo horário já estava aberto e comprou a coca de sempre, lá dentro ela se delícia por gosto, por fome, por ansiedade e a vida continua...
Eu sempre previ o futuro dos meus relacionamentos, ou ao menos das paixões, e eles sempre acabaram como eu dito havia ,talvez porque eu fizesse o possível para isso acontecer, sempre sofri por antecedência e por isso acabava com tudo antes que tudo acabasse comigo, mas a cada fim de filme, de novela, de livro, de amor, de amizade eu findo um pouco, perco um milímetro de carne, e de corpo e de alma, ou acrescento, não sei. E hoje é mais um fim pra mim.